Apresentação
Pretende ser uma homenagem a todos quantos
nos últimos cinquenta anos se envolveram no movimento estudantil, nas suas mais
diversas actividades e estruturas, com ênfase e destaque para todos os que
foram protagonistas em 1969.
Entre tais protagonistas são evidentemente
de realçar os dirigentes da Associação Académica de Coimbra, estrutura já com
algumas décadas de existência e que ao longo da sua rica história muitas vezes
tem sido um farol de liberdade e uma referência para o Movimento Estudantil.
Dedico ao Alberto Martins uma palavra especial, não só pela sua participação
neste processo, mas igualmente pelo contributo que deu para a execução deste
trabalho, quer com os materiais que disponibilizou quer com o seu conselho e
conhecimento.
Na pessoa da Fernanda Bernarda, destaco
todas as mulheres - metade do céu - que, com o seu contributo, permitiram que a
luta de 1969 alcançasse o que nenhuma outra tinha alcançado. No caso em
concreto da Fernanda Bernarda, o seu papel foi insubstituível na medida em que,
para além de ter tido uma relevante intervenção em todos os acontecimentos, foi
quem se revelou capaz de sustentar muitas das situações face às quais a
restante direcção do movimento ficou fragilizada em virtude da repressão.
Durante a guerra colonial as mulheres ainda não faziam parte da “tropa”, e
nessa circunstância não podiam ser incorporadas compulsivamente, o que lhes
permitia alguma margem de manobra.
É igualmente devida uma mensagem de
agradecimento às Repúblicas e aos Repúblicos, que nesses anos foram base dessas
movimentações e que, desde aí, muitas vezes contra ventos e marés, têm sabido
no essencial manter vivo o seu espírito. Entre elas tenho de destacar a Real
República dos Corsários das Ilhas, que ao longo destes anos muitas vezes me
serviu de porto de abrigo. É para mim um orgulho pertencer à sua tripulação.
Uma mensagem de especial afecto é igualmente devida à República da Rosa de
Luxemburgo e às Marias do Loureiro.
Foi nas Repúblicas que germinou e
floresceu o ambiente anti Comissões Administrativas, e foi das Repúblicas que
saiu a lista que em 1969 ganhou as eleições para a Associação Académica de
Coimbra.
A documentação que aqui é compilada é
parte de um conjunto mais vasto de documentos sobre o movimento estudantil, que
por sua vez pertence a um acervo documental de organizações políticas – aqui no
sentido mais amplo.
Esta documentação tem vindo a ser
recolhida e organizada ao longo dos anos, tarefa que teve o contributo de
inúmeras pessoas, que em diferentes circunstâncias têm oferecido ou disponibilizado
material, bem como contribuído das mais diversas formas para este fim. Não
posso aqui deixar de referir com especial amizade e camaradagem o António e o
Pedro – os Alves, com particular referência ao seu contributo para a
preservação da memória. Não sendo possível referir o nome de todos, aqui fica o
meu agradecimento aos amigos que têm acompanhado este projecto e de muitas
maneiras contribuído para ele. Ao Luís Marques, caloiro em Coimbra em 1969, que
ao longo da sua formação acompanhou alguns dos momentos mais significativos das
movimentações estudantis, com uma mania igual à minha de ir apanhando e
semeando papeis por que ia passando, pela oferta do seu precioso espólio, assim
como o relato de algumas peripécias que felizmente temos o prazer de continuar
a partilhar. Ao Orlando Claro e ao Bruno Mendes em que a parte mais importante
do agradecimento não é o apoio técnico e logístico que de muitas formas me tem
fornecido, mas a capacidade de serem meus amigos e fazerem coisas que por vezes
nem eu consigo – aturar-me. À Ana Margarida Fernandes, entre outras coisas pela
descoberta de um importante espólio documental que fez o favor de oferecer. Ao
José Manuel Lopes Cordeiro, pela disponibilidade em rever este texto de
apresentação. Aproveito igualmente para agradecer à minha família todo o apoio
que me tem fornecido, o que me permite continuar a efectuar o trabalho que
venho desenvolvendo. Ao meu tio Victor Freitas pelo apoio logístico que prestou
na recolha da documentação.
Os documentos do “Processo” aqui
apresentados resultam em parte da doação de um significativo acervo de
documentação relacionada com a actividade estudantil em Coimbra, centrada nos
últimos anos do regime fascista. Vieram-se juntar a um outro conjunto
proveniente da digitalização dos documentos de duas outras repúblicas – os
“Corsários” e a extinta “5 de Outubro” – assim como a outros de diferentes
fontes.
Este trabalho teve assim como ponto de
partida alguns desses documentos, que permitem, por um lado, relembrar e, por
outro vislumbrar o que foram esses dias e a intervenção que milhares de
estudantes então tiveram.
A peça fundamental que está na origem
deste livro é o “Inquérito” levado a efeito por determinação do então Ministro
da Educação Nacional (MEN), José Hermano Saraiva e que até hoje não tinha ainda
sido integralmente publicado.
É acompanhado por uma grande quantidade de
materiais da época, com os quais se pretende dar a conhecer, ou a relembrar, a
luta e o esforço dos intervenientes, e informar, não só os estudantes mas
também a população em geral, do que nesses dias se passou e, dessa forma,
ultrapassar o bloqueio que a repressão e a censura então impunham.
A publicação deste
"Processo" não vai revelar nenhuma realidade escondida, nem
nenhuma situação que altere profundamente a visão que já existe, mas, estou
certo, contribuir para um melhor conhecimento de alguns episódios e dos seus
protagonistas.
A documentação aqui reproduzida é composta
no essencial por três partes.
A primeira parte
é constituída pelas peças processuais do “Inquérito”, mandado
instaurar pelo então Ministro da Educação Nacional, e que resultou em processos
disciplinares levantados a quarenta estudantes.
Tendo por base os acontecimentos ocorridos
até 6 de Maio, as fases de “Acusação” e de “Defesa” vão prolongar-se ainda
durante mais alguns meses.
Do "Processo" fazem parte:
- O Inquérito: é constituído por dois
volumes, nos quais são prestados depoimentos por diferentes intervenientes,
nomeadamente, o Reitor, Vice-Reitor, Professores, agentes da PIDE, assim como
descrito o conjunto de diligências efectuadas. Nele prestam igualmente
depoimento os oito estudantes que foram suspensos preventivamente a 22 de Abril.
- A Acusação: peça em que são
fundamentadas as acusações a quarenta estudantes, em processo disciplinar
mandado instaurar pelo M.E.N., e executada pelo instrutor Manuel António Agra
Rocha em 24 de Junho de 1969.
- A Defesa: peça assumida por um colectivo
de juristas representados por António Alves Nunes, Vital Moreira, Aníbal de
Almeida e Mário Araújo Torres, à época professores da Faculdade de Direito de
Coimbra, e na qual é feita a defesa colectiva dos arguidos. A segunda parte da
defesa, referente a cada um deles, foi efectuada por advogados constituídos
individualmente. Esta última parte não é aqui reproduzida, por serem diversas
as defesas e diversas as estratégias individuais e não ter sido possível o
acesso a todos esses documentos. No seu conjunto um relato, feito a partir
de diversas perspectivas, do que então se passou e da argumentação utilizada
para a defesa das diferentes partes em confronto.
Na transcrição dos documentos processuais,
optou-se por manter a numeração das páginas (folhas) do “Processo”, pois são
essenciais para a orientação quer da “Acusação” quer da “Defesa”. A partição das
páginas é igualmente mantida como no original, uma vez que lhe são feitas
inúmeras referências.
O "Processo" permite uma visão
muito completa dos acontecimentos. Não pode, contudo, ser encarados como “a
verdade”, do que então se passou. Quer pelos diferentes papéis e pontos de
vista dos interlocutores, quer porque as suas declarações e os procedimentos
estão sujeitos às contingências próprias de um inquérito, em que os diferentes
intervenientes assumem no seu relato dos acontecimentos, estratégias diferenciadas,
quer colectiva quer individualmente, exprimindo versões que ora melhor servem
os objectivos de defesa ora da acusação. Acresce que todos eles estão sujeitos
às circunstâncias que a época propiciava, em pleno regime fascista e durante
uma violenta vaga repressiva. Este documento é igualmente um bom exemplo do
tipo de tramitação que era utilizado durante esses anos, em que a rapidez de
execução pouco ou nada tinha a ver com a dos dias de hoje.
A segunda parte deste livro corresponde
aos materiais - sobretudo tarjetas e comunicados -, em que são divulgadas as
posições tomadas por diferentes órgãos representativos da Academia de Coimbra;
Assembleias Magnas, Direcção da AAC, Juntas de Delegados, entre outros. Estes
documentos têm início no dia 16 de Abril e prolongam-se até ao final de
1969.
São materiais que requeriam na sua
produção e distribuição um conjunto de processos de alguma complexidade, de
métodos e técnicas que são hoje em alguns casos exemplos de arqueologia em
diversos domínios.
O processo de produção de um panfleto,
começava por uma discussão do conteúdo e do objectivo do mesmo,
seguido da produção de um texto, ele próprio sujeito a discussão em diversos
componentes. A fase de impressão era constituída pela passagem para um stencil numa
máquina de escrever, sendo-lhe posteriormente acrescentado por intermédio de um
estilete alguns símbolos ou desenhos, assim como os títulos ou outros
elementos. Em seguida esse stencil era
colocado num mimeógrafo, mais conhecido por policopiador, a partir do qual eram
impressos os respectivos comunicados. Todo este processo era sujeito a inúmeros
erros e problemas técnicos do mais variado índole. Acrescentemos as
dificuldades em obter papel e tintas, assim como o próprio local em que esta
operação era efectuada, uma vez que muitas vezes tinha de ser feita fora do
alcance das forças de repressão. O processo de distribuição era igualmente
sujeito a outros riscos, uma vez que tal dava, por vezes, lugar a diversas
formas de repressão. Um aspecto particular deste tipo de documentos eram as
chamadas targetas. Produzidas do mesmo modo, tinham normalmente uma mensagem
simples – convocar uma reunião, dar uma pequena informação, etc. -, e eram
impressas em maior quantidade, dado que uma folha de papel dava para várias. Um
bom exemplo é o da targeta em que é anunciada a prisão do Presidente da AAC. Se
tivéssemos de encontrar um paralelo com os nossos dias, seria o equivalente à
divulgação de uma mensagem nas redes sociais. A utilização de papel de
diferentes cores, era igualmente um método utilizado como forma de
diferenciação.
Na selecção destes documentos partiu-se
das referências constantes no “Processo”, mas igualmente de alguma das obras
consultadas, nomeadamente do livro de Celso Cruzeiro (Coimbra,
1969 – A Crise Académica, O Debate das Ideias e a Prática, Ontem e Hoje, Edições
Afrontamento), o livro de Miguel Cardina (A
Tradição da Contestação, Edições Angelos Novus), e o livro de Rui Namorado
(Abril antes de Abril. A crise universitária de Coimbra de 1969, Edições Lápis
da Memória), que serviram, entre outros objectivos, para ajudar a fazer a
selecção dos panfletos aqui apresentados. Desde já os meus agradecimentos aos
autores, pelo seu trabalho, no caso do Celso Cruzeiro extensivo
ao seu importante papel durante este período.
Fazem ainda parte deste núcleo documental
um conjunto de caricaturas da autoria de Carlos Santarém, João Botelho e
Joaquim Pais de Brito. Estas caricaturas foram utilizadas para ilustrar
alguns dos panfletos e igualmente como modo de financiar a actividade da
Direcção-Geral da AAC. durante esse período.
A terceira parte dos documentos
constitutivos deste livro foi retirada de uma exposição de fotografias reunidas
pela Secção Fotográfica da AAC e expostas em diversas iniciativas, igualmente
com o objectivo de divulgarem a luta dos estudantes. Foi um trabalho foi
realizado pela Secção Fotográfica da AAC, e é o resultado de uma recolha feita
junto dos seus membros. Contou com a participação de Fernando Marques, Varela
Pé Curto e Carlos Ramos.
Já muito foi dito e escrito, por muitas e
avalizadas pessoas sobre a crise académica de 1969 e sobre as suas
consequências, assim como as enormes repercussões que tiveram na sociedade
portuguesa, em particular na Universidade e no Movimento Estudantil.
Com a Crise Académica de 1969 os pequenos
sinais de abertura que o regime manifestou – Primavera Marcelista – foram
definitivamente desmentidos pelos acontecimentos.
Não é objectivo desta publicação fazer a
análise de todos os acontecimentos e diferentes interpretações que dai
advieram, nem tão-pouco uma interpretação político-sociológica dos
mesmos. Não pretende de igual modo fazer nenhuma análise histórica,
sociológica ou cultural destes acontecimentos.
Para isso existem já outros livros e vasta
documentação produzida. Muitos dos intervenientes directos prestaram ao longo
dos anos o seu testemunho, e felizmente parece ser um trabalho que não está
ainda definitivamente concluído.
A finalidade desta publicação é
proporcionar aos interessados no tema o acesso a uma narrativa produzida na
época e aos documentos então produzidos. A opção por editar os documentos em fac-símile teve
também o objectivo de dar ao leitor a oportunidade de consultar não só o seu
conteúdo, mas igualmente permitir um vislumbre das técnicas e modos de produção
da época, assim como do seu grafismo.
Várias estruturas, entre as quais assume
particular relevo a Direcção da Associação Académica de Coimbra (AAC), as
Juntas de Delegados das diversas Faculdades, o Conselho das Repúblicas e a Comissão
Nacional dos Estudantes Portugueses – CNEP, foram intervenientes na primeira
linha destes acontecimentos.
Com a frase proferida a 17 de Abril, por
Alberto Martins, Presidente da Associação Académica de Coimbra, durante a
inauguração do edifício das Matemáticas da Universidade de Coimbra, “Sua
Excelência, Sr. Presidente da República, dá-me licença que use da palavra nesta
cerimónia em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra?”, tinha início
a fase mais visível da chamada Crise Académica de 1969.
Dos acontecimentos, alguns percursores,
apresenta-se seguidamente uma pequena cronologia, necessariamente incompleta,
como forma de permitir que os menos familiarizados com a temática fiquem com
uma ideia geral dos mesmos.
As associações de estudantes (AAEE) há
muito suportavam um condicionamento sistemático, manietadas por uma legislação
círcum-escolar opressiva, com o objectivo de obstruir as actividades estudantis
e de permitir uma repressão capaz de servir as disposições e conveniências do
regime. Qualquer actividade estudantil, sindical ou cultural, no âmbito
das AAEE, de comissões específicas eleitas ou de qualquer organismo
cultural deparava com uma reacção política hostil e sistemática, apostada em
criar dificuldades com o mínimo impacto na opinião pública.
A crescente determinação das AAEE,
conduziu em 1962 uma investida por parte do Governo, criando uma crise
académica que, partindo de Lisboa, onde teve maior importância, se repercutiu
também no Porto e em Coimbra, onde uma lista presidida por Carlos Candal –
também ele um Corsário das Ilhas – venceu as eleições para a Direcção-Geral da
Associação Académica de Coimbra (AAC). À ofensiva governamental os estudantes
responderam com diversas formas de luta, como a greve às aulas, silenciada por
meio de uma série de castigos disciplinares e de medidas repressivas sobre as
AAEE. Esta crise revestiu-se de uma assinalável importância, entre muitas
outras razões porque foi a primeira ocorrida desde o início da guerra colonial.
Em sequência, o governo salazarista
produziu toda uma legislação círcum-escolar, visando o amordaçar do movimento
estudantil, a qual deu origem ao frustrado decreto 40 900. Assim se iniciou uma
repressão continuada, com episódios mais ou menos esporádicos, que em 27 de
Julho de 1965 levou à destituição da Direcção-Geral da AAC, impondo-lhe a
partir de então as Comissões Administrativas, depois de expulsos os seus
dirigentes.
Enquanto a Universidade permanecia na sua
rotina, os estudantes travavam como podiam a luta contra a política repressiva
do Governo. Esta realidade foi dando origem ao progressivo aprofundamento
da consciência crítica dos estudantes, que assim adquiriam uma visão crítica da
Universidade e da relação entre a política anti-estudantil e o tipo de
sociedade na qual aquela se processava.
Em Agosto de 1968, Salazar “cai da
cadeira” e é substituído na Presidência do Conselho de Ministros por Marcelo
Caetano, que forma o seu governo a 27 de Setembro.
A 20 de Novembro, o Ministro da Educação
Nacional proibiu um representante dos estudantes de usar da palavra durante a
Sessão de Abertura das Aulas da Universidade de Lisboa, com o propósito de
expor as reivindicações estudantis ao novo Governo. À cerimónia oficial não
compareceu nenhum estudante. As Associações Académicas de Lisboa organizaram,
ao mesmo tempo, a autêntica Sessão de Abertura, onde, com a presença de mais de
quatro mil estudantes e de alguns professores, foram debatidos os problemas da
Universidade e do ensino em Portugal.
A 23 de Novembro, a Lista apoiada pelo
Conselho das Repúblicas apresentou publicamente a sua candidatura à
Direcção-Geral da AAC.
Em 25 de Novembro – dia da Tomada da
Bastilha – reuniram-se em Coimbra mais de cinco mil estudantes das três
academias e, num encontro nacional de estudantes portugueses, foi
aprovada a chamada “Declaração de Coimbra”, documento em que eram
reivindicados os “9 Pontos”: 1 - Imediata demissão das Comissões
Administrativas e eleições imediatas na Associação de Estudantes da Faculdade
de Ciências de Lisboa e na Associação Académica de Coimbra. 2 - Legalização de
todas as Comissões Pró-Associação e criação de condições para elas se
constituírem onde ainda as não houver. 3 - Revogação de toda a legislação
Anti-Associativa e Anti-Estudantil. 4 - Participação de estudantes
democraticamente eleitos na gestão dos serviços criados pelo Governo. 5 -
Participação dos estudantes democraticamente eleitos no governo da
Universidade. 6 - Intervenção das Associações de Estudantes em todas as
questões e instâncias onde se decida da vida e da reforma da Universidade e do
ensino em geral. 7 - Legalização de órgãos federativos e lançamento das bases
de uma União Nacional dos Estudantes Portugueses. 8 - Amnistia de todos os
estudantes expulsos e presos e reintegração na Universidade de todos os
professores expulsos. 9 - Direito à livre informação dos estudantes sobre o
processo. Estes “9 Pontos” constituirão depois uma das bases das reivindicações
estudantis, a apresentar ao novo Presidente do Conselho. Foi então criada
a Comissão Nacional dos Estudantes Portugueses.
Em 8 de Dezembro, a PIDE invadiu as
instalações da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (IST),
suspendeu os seus corpos gerentes, saqueou o seu património, tendo o Governo
encerrado o IST. No dia seguinte, a polícia de choque invadiu a Cidade
Universitária.
Em 25 de Janeiro de 1969, são convocadas
as eleições para a AAC, que se vêm a realizar a 12 de Fevereiro, e que serão
ganhas por esmagadora maioria pela lista apoiada pelo Conselho das Repúblicas e
por organismos culturais como o Coro Misto, o Círculo de Iniciativa Teatral da
Academia de Coimbra (CITAC), o Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de
Coimbra (GEFAC), o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e a
Tuna.
Em 14 de Fevereiro, a Faculdade de Direito
de Lisboa é invadida pela P.S.P. e encerrada. A direcção eleita da Associação
Académica não é homologada pelo Ministro da Educação Nacional.
Em 27 de Fevereiro, a polícia invade a
Universidade do Porto, carregando sobre os estudantes reunidos em Assembleia
Plenária.
Em 17 de Março, toma posse a Direcção
Geral da AAC.
Em 17 de Abril, depois de recusa das
autoridades académicas, é o próprio Presidente da República quem não satisfaz o
pedido do Presidente da Associação Académica de Coimbra, no sentido de se fazer
ouvir, em nome dos estudantes, na Inauguração do Edifício de Matemáticas da
Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Os estudantes de Coimbra
protestam e realizam a sua Sessão de Inauguração do Edifício.
Nessa madrugada, Alberto Martins é
preso pela PIDE quando saía da sede da AAC e levado para interrogatório; a
PSP irrompeu com os seus cães e à coronhada contra um grupo de quase duas
centenas de estudantes que em frente da sede da PIDE aguardavam notícias sobre
o Presidente da AAC.
Alberto Martins é libertado ao início da
manhã e participa a partir das 11,30 horas nos “Gerais” da Universidade numa
Assembleia Magna, convocada de emergência.
Em 22 de Abril, são suspensos 8 estudantes
da frequência de todas as actividades relacionadas com a universidade. São eles
Alberto Martins, Osvaldo Castro, Fernanda Bernarda, Matos Pereira, Celso
Cruzeiro (todos da D.G. A.A.C.); Barros Moura (da C.N.E.P.) e Carlos Batista
(Junta de delegados de Ciências). É convoca de emergência uma Assembleia Magna
para as 15.30 horas no ginásio da AAC que decreta o Luto Académico com greve às
aulas.
O luto académico vai manter-se até 6 de
Maio. Durante este período as aulas são boicotadas e substituídas por diversas
actividades como assembleias permanentes, debates e plenários assim como
actividades culturais de organismos como o CITAC, Coro Misto, GEFAC, TEUC e
Tuna.
As principais Secções Desportivas da AAC
aderem ao protesto e passam a guardar um minuto de silêncio antes das provas e
a equipar de luto.
Em 23 de Abril, a PIDE irrompe durante a
madrugada em casa de Ricarde Salvat, que com a mulher e a filha são expulsos
para Espanha. A peça de teatro “Castelao e a sua época”, do grupo de teatro
CITAC, que tinha apresentação marcada para esta data, é impedida pela comissão
de censura. Na mesma altura o encenador Luís de Lima é igualmente expulso do
país. A peça do TEUC “A Ilha dos Escravos” vem igualmente a ser proibida. O campo
cultural vai dar um importante contributo na contestação.
Em 29 de Abril, por ofício do Ministério
da Educação Nacional, é mandado instaurar o “Inquérito” aos
acontecimentos. Em Assembleia Magna é decidida a continuação do luto
académico.
Em 30 de Abril, o Ministro da Educação
fala ao país, acusando os estudantes, entre outras coisas, de insulto ao chefe
de Estado.
A 1 de Maio, uma Assembleia Magna
realizada no ginásio da AAC, decide a continuidade do luto académico.
Nesse mesmo dia o Ministro da Educação
Nacional determina o encerramento das Faculdades de Direito, Letras, Medicina e
Farmácia da Universidade de Lisboa. A Cidade Universitária é ocupada pela
G.N.R..
No dia 6 de Maio, são ordenados o
encerramento da Universidade de Coimbra e a cessação de todas as actividades
escolares até aos exames, que mantêm o calendário agendado.
Em 7 de Maio, a Comissão de Grelados
determina a anulação da Queima das Fitas, com todas as consequências que dai
advém para a Universidade e para a cidade de Coimbra.
Em 9 de Maio, é decidida em Assembleia
Magna a continuação do luto académico durante os exames.
Em 14 de Maio, é mandado instaurar pelo
MEN um processo disciplinar contra 40 estudantes.
No dia 28 de Maio, cinco mil estudantes de
Coimbra, reunidos em Assembleia Magna, decretam a abstenção a exames como forma
de prosseguir o luto académico enquanto não forem atendidas as suas
reivindicações: levantamento das suspensões, dos processos e das faltas
relativas ao período de luto académico.
Durante todo este mês e no seguinte
realizam-se diariamente assembleias para acompanhar o evoluir da situação.
Promovem-se igualmente as mais diversas actividades culturais, - cinema,
teatro, exposições de livros, debates - em que participam não só grupos afins à
Universidade mas também personalidades ligados à vida cultural, como Adriano
Correia de Oliveira, José Afonso, Ary dos Santos, Vitorino de Almeida, Chico
Buarque ou Vinícios de Moraes, entre outros.
A 2 de Junho, primeiro dia de
exames a Universidade é cercada e ocupada por forças policiais: G.N.R.,
Polícia de Choque e PIDE. 86% dos estudantes não se apresentam a fazer
exames. A cavalo, de jeep,
de automóvel, as forças policiais passaram a patrulhar Coimbra, como se fossem
um exército de ocupação. Quem se assemelhasse a um estudante corria o risco de
ser insultado ou preso, como aconteceu a dezenas de jovens.
Caído no ridículo este sistema, pelas
sucessivas absolvições que os tribunais iam pronunciando, recorreu o Governo a
uma arma mais sofisticada, a Polícia Judiciária, que desencantou no código
Penal um tipo de crime inusual e, mediante um malabarismo interpretativo, lá
encaixou os factos de que acusava os estudantes. O suposto crime de sedição
passou a ser o pretexto para um procedimento ilegal. Os interrogatórios foram
conduzidos sem respeito pela lei e de forma desumana.
Em 3 de Junho, os estudantes
procuraram o apoio da população e oferecem flores. É a Operação Flor. Partindo
da Sede da AAC, é feito um desfile até à Praça da Portagem, onde são lançados
balões com comunicados a explicar as posições dos estudantes.
Em 14 de Junho, por despacho do
Ministro da Educação Nacional, o inquérito é convertido em processo disciplinar
académico.
Em 15 de Junho, a Académica venceu por 1 a
0 o Sporting Clube de Portugal na meia-final da Taça de Portugal. Os estudantes
aproveitaram o jogo para se manifestarem.
A 22 de Junho a Académica jogou a
final da Taça de Portugal com o Benfica. Uma enorme delegação de estudantes
deslocou-se ao Estádio Nacional, em Lisboa, para apoiar a Académica e, ao mesmo
tempo, fazer desse jogo uma importante jornada de contestação e de
esclarecimento da população. O Presidente da República não assistiu ao jogo e a
RTP não efectuou a sua transmissão. No fim o Benfica ganhou por um golo, talvez
o mais politicamente incorrecto de toda a carreira de Eusébio.
Em 24 de Junho, por despacho do Ministro
da Educação Nacional, são mandados instaurar processos disciplinares a quarenta
estudantes.
No dia 11 de Julho, o Governo alterou o
texto do n.º 1 do art.° 24 da Lei n.º 2135, passando a depender a concessão de
adiamento do serviço militar aos estudantes do seu “comportamento escolar”!
Em 8 de Agosto, são destituídos os
Corpos Gerentes e suspensas todas as actividades da AAC. Nesse mesmo mês, parte
da direcção da AAC e outros estudantes são presos pela polícia judiciária e
passam grande parte do mês encarcerados.
Em 25 de Setembro, quando os estudantes se
propunham reunir em Magna no Jardim da AAC, esse direito foi-lhes negado pelas
autoridades universitárias, auxiliadas pela PSP. Igual procedimento foi
adoptado no Pátio das Escolas e no Campo de Santa Cruz. Perante a
manifestação de protesto levada a cabo pelos estudantes, retorquiu a PSP com
brutalidade, extensiva a toda a população que encontrava em locais como a Praça
da República.
Em 12 Outubro, o Governo utilizou a
incorporação no Exército como castigo, convocando 49 estudantes da Universidade
de Coimbra. Daqui para a frente, o Governo utilizará o cumprimento do serviço
militar obrigatório como sanção para os estudantes.
A 26 Outubro realizaram-se as eleições
para a Assembleia Nacional, “ganhas” por unanimidade pela União Nacional.
A 14 Janeiro 1970, Veiga Simão substituiu
Hermano Saraiva como Ministro da Educação, implementando uma política de
“desanuviamento” na Universidade, que passou pela amnistia das diferentes
medidas punitivas que tinham sido impostas a alguns dos estudantes e pela
disponibilidade para “discutir” uma reforma que viria a ficar com o seu nome.
Em 12 de Fevereiro, tomou posse como
Reitor da Universidade de Coimbra o Professor Gouveia Monteiro, que se declarou
«não
um delegado do governo junto da Universidade, mas um representante da
Universidade junto do Governo», defendendo a reintegração dos estudantes
afastados.
Em 11 de Abril, foi concedida uma
audiência com o Presidente da República a uma delegação da Universidade de
Coimbra, constituída pelo Reitor, por um Catedrático e um Assistente de cada
Faculdade - os mais antigos -, assim como os oito estudantes que tinham sido
suspensos em 22 de Abril de 1969. Este foi um acontecimento que causou alguma
polémica e diferentes interpretações. Embora baseada numa resolução tomada na
Assembleia Magna de 24 de Abril de 1969, e novamente reiterada em Magna
realizada no Gil Vicente em 3 de Abril de 1970, foi interpretado como um pedido
de desculpa pelos acontecimentos ocorridos a 17 de Abril.
Nos dias seguintes os estudantes
incorporados compulsivamente no exército começaram a regressar a Coimbra.
Em 27 de Abril, Veiga Simão anunciou
que, por despacho de 14 de Abril, tinham sido amnistiados os estudantes dos
processos disciplinares e judiciais que lhes tinham sido movidos. Desta
forma, o Governo esperava ter ultrapassado a crise. Porém tal não veio a
acontecer.
Esta é a última contestação estudantil em
que a questão da guerra colonial não terá um papel central. Daí para a
frente a contestação do movimento estudantil vai passar a ter novos motivos e
componentes.
Na Crise de 1969, a única corrente
partidária estruturada era a Organização Estudantil de Coimbra do Partido
Comunista Português. A corrente maioritária durante todo o processo vai ser a
chamada “Corrente C.R.” a que se junta ainda os “Contestas” que não tem na
altura uma conotação política que possa ser enquadrada nas organizações que
vieram posteriormente a surgir. No caso dos “Contestas”, uma parte dos
elementos vai dar origem às primeiras organizações de cariz trotskista,
enquanto na “Corrente C.R.”, maioritariamente de esquerda, estão
ainda “não definidos”, mas com múltiplas influências de acontecimentos
recentes, como o Maio de 1968, a Guerra do Vietname e a invasão da
Checoslováquia, assim como dos ventos da Revolução Cultural na China, a que se
junta a questão cada vez mais pertinente da Guerra Colonial.
Deste caldo cultural e geracional,
diferentes correntes políticas irão surgir nos anos subsequentes, estando
alguns dos seus futuros quadros já presentes nestes acontecimentos.
Na sequência das eleições de Outubro, e
sobretudo a partir de 1970, uma série de outras organizações ligadas a
correntes de esquerda radical, tais como organizações de raiz
marxista-leninista, vão formar-se, passando a ter crescente influência no
desenrolar dos acontecimentos. A crescente politização do meio estudantil vai
levar uma contestação mais alargada. À luta contra a chamada “Reforma Veiga
Simão” e às reivindicações de carácter sindical, veio-se juntar a luta contra a
guerra colonial, a repressão e a militarização do ensino, e a favor da amnistia
e da libertação dos estudantes presos, assim como a exigência de derrube do
próprio Regime.
A 30 de Abril de 1970 concorreu à
Direcção-Geral da A.A,C. uma lista única - “Lista do Movimento Estudantil”,
movimento este saído de um processo eleitoral constituído a partir das Juntas
das Faculdades, em que os estudantes eram votados individualmente e o programa
aprovado em Magna. Embora eleita, esta direcção nunca veio a ser homologado
pelas autoridades.
O regime vai continuar com as formas de
repressão sobre o Movimento Estudantil. Dezenas de estudantes de diferentes
instituições continuam presos nas cadeias da PIDE, então rebaptizada de
Direcção-Geral de Segurança - DGS.
A 9 de Maio na sequência de uma actividade
promovida por um grupo pró-regime, e perante o protesto de estudantes que se
concentraram à porta do Teatro Gil Vicente, a polícia investe à bastonada, a
tiro e com gases lacrimogéneos na Praça da República e na Associação Académica,
sendo ferido a tiro o estudante Fernando Seiça.
Em 21 de Janeiro de 1971, o Ministro da
Educação determinou a “lei de excepção” para as universidades, que permitiu
todo o tipo de arbitrariedades contra os estudantes e as suas associações.
Processos disciplinares com suspensões e expulsões, prisões pela PIDE e Polícia
Judiciária, incorporações forçadas no exército, encerramento das associações,
invasão de faculdades e instalações universitárias, por vezes recorrendo à
utilização de armas de fogo, passaram a fazer parte do dia a dia.
Neste período surgem conflitos com alguns
grupos estudantis em torno da manutenção de determinados símbolos e práticas,
da sua conformidade com a declaração de luto académico, assim como com a
continuação da praxe e de actividades estudantis como a Queima das Fitas.
O Dux Veteranorum, assume durante estes
anos um papel com uma importante componente política; por um lado pela defesa
do luto académico e por outro - como durante o ano de 1970 - assumindo funções
para as quais não fora eleito, como presidir a assembleias magnas em
substituição dos elementos eleitos para o efeito e impedidos de o fazerem.
Tendo a sua origem em Coimbra, a praxe,
com o seu conjunto de símbolos, usos e rituais em que se integram o trajar e
outras práticas, passa a partir deste processo a ser postas em causa de uma
forma muito consistente por uma grande maioria dos estudantes. No ano lectivo
1970/71 a recepção aos “caloiros” é substituída pela “semana de recepção aos
novos alunos” e as actividades tradicionais como a Latada e a Queima das Fitas
deixam de se realizar.
A Crise de 1969, tendo por um lado tido a
capacidade de utilizar as tradições académicas como componente da luta
estudantil, vai em simultâneo fazer com que até ao início dos anos 80 todas as
actividades deste tipo tenham sido banidas pela maioria dos estudantes, por
serem identificadas com a Universidade ou o Ensino (Velho).
Em Coimbra, mas também em Lisboa e Porto,
assim como em muitas escolas secundárias locais de Viseu, Évora, Viana do
Castelo ou Braga as “tradições académicas” vão desaparecer durante uma década a
partir desta altura. Em alguns casos virão a ser “ressuscitadas” e apropriadas
posteriormente pelas chamadas Universidades Novas, também elas com origem na
Reforma Veiga Simão, como é o caso da Universidade do Minho – a minha Academia
– que no início dos anos 90 vai pegar nas extintas festas do Liceu Sá de
Miranda – o Enterro da Gata – e reinventá-las, incorporando-as na sua
“tradição”. É igualmente de referir o caso das “Nicolinas” – Festas dos
Estudantes do Liceu Nacional de Guimarães – a minha escola secundária – que são
as únicas festas estudantis que por um lado nunca foram interrompidas e, por
outro, continuam a ser organizadas por estudantes do ensino secundário. O
cruzamento entre as tradições académicas de Guimarães e as da Academia de
Coimbra tem séculos e este não é o local para as abordar.
Em relação às Repúblicas coimbrãs, é de
realçar o seu importante papel na manutenção de um modo de viver e de
intervenção. Tendo mantido ao longo dos anos um núcleo mais ou menos sólido,
embora sofrendo sucessivas baixas, compensadas em parte pelo reconhecimento a
outras casas da condição de República. Das Repúblicas saíram ao longo dos anos
inúmeras pessoas que se destacaram nas mais variadas áreas de intervenção,
algumas depositárias de importantes acervos documentais que não estão a ser
devidamente protegidos e que seria importante preservar. O recente despejo da
República “O Farol das Ilhas” é mais um exemplo disto. Estas casas pelo seu
posicionamento político, nunca estiveram seguras nem protegidas, tendo como sua
maior defesa a união, independentemente das suas diferenças, quando
estão em causa direitos essenciais das casas e dos estudantes. Algumas delas
estão neste momento novamente em perigo, nomeadamente por não terem sido
devidamente protegidas aquando das alterações legislativas sobre a “lei das
rendas”.
Não a título de curiosidade mas como nota
importante, é de referir que ainda hoje há Repúblicas que mantém o luto
académico de 1969, e em consequência são vincadamente antipraxe, - o que
implica por exemplo a proibição de entrar trajado nas casas - embora outras
tenham uma postura muito diferente.
Voltando à cronologia, a 27 de Novembro de
1970 é eleita em Assembleia Magna uma nova Direcção-Geral, originada num
processo de discussão nas faculdades.
Em Fevereiro e Março de 1971, a repressão
abate-se mais uma vez sobre a Academia de Coimbra; mais de duas dezenas de
estudantes, entre os quais a quase totalidade dos corpos dirigentes da AAC, são
presos e enviados para Caxias. Mais uma vez a AAC vai ser entregue a
Comissões Administrativas nomeadas pelas autoridades.
À contestação o regime responde com a
militarização do ensino. Por um lado, recorrendo à incorporação nas forças
armadas dos estudantes que mais se destacavam na actividade
político-associativa. Por outro, ao tomar medidas como a introdução
dos “Pides vigilantes” nas faculdades. Os “vigilantes” são
institucionalizados por despacho de 27 de Janeiro de 1973 e passam passaram a
ser conhecidos entre os estudantes como “Gorilas”. Eram indivíduos provenientes
das forças especiais do exército colonial – sobretudo dos comandos – que tinham
por missão controlar as movimentações dos estudantes dentro das faculdades.
No caso do ensino secundário, esta medida
de colocação de “vigilantes” também existiu, tendo-se traduzido na colocação do
mesmo tipo de indivíduos, muitos deles pouco mais do que analfabetos, com as
funções de professores de educação física. Felizmente uma parte dos estudantes
de 1969 e dos anos seguintes começou igualmente a chegar ao ensino secundário
como professores, tendo tido um importante papel no surgimento e fortalecimento
de movimentações estudantis contra o regime neste grau de ensino.
De todos os grupos sociais que durante a
última fase do anterior regime se ergueram contra ele, os estudantes foram dos
que de uma forma mais consequente e persistente o fizeram.
Oriundos na sua maioria das classes
sociais mais privilegiadas, os estudantes vão travar igualmente uma luta contra
as suas origens, adoptando em muitos casos a causas do campo contrário.
As incorporações forçadas no exército
colonial, a suspensão e expulsão de estudantes, o fecho muitas vezes precedido
de assalto policial às AAEE e a repressão sobre as mais diferentes máscaras
assumiram por vezes formas de extrema violência. Ocorrências como o metralhar
pela polícia de instalações universitárias e prisões selectivas ou em massa de
estudantes passaram a ser rotina.
Por outro lado, vai assistir-se a uma
progressiva politização e radicalização do movimento estudantil, que partindo
da discussão de questões pedagógicas, ou de reivindicações (salas de convívio,
ou de cariz associativo), passou para formas de luta mais globais, como a
oposição cada vez mais acentuada à guerra colonial.
No período que vai de 1969 a 1974 o número
de prisões vai atingir níveis nunca antes registados, nem mesmo no tempo de
Salazar. Contam-se por milhares os estudantes que irão durante este período
passar pelas cadeias. Presos individualmente ou às centenas, muitos deles
sujeitos à tortura, outros passando à clandestinidade, começam a integrar
diferentes organizações políticas.
As Academias de Lisboa, Porto e Coimbra
são o centro desta contestação. O assassinato de José António Ribeiro dos
Santos, a 12 de Outubro de 1972, por agentes da PIDE durante uma reunião de
estudantes no então Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras,
actual Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, vai fazer com que
qualquer tipo de conciliação com o regime se torne impossível.
A partir desta altura, a contestação
estudantil estendeu-se progressivamente ao ensino secundário. A constituição de
associações ou pró-associações em Lisboa e no Porto e o ramificar da
contestação a outros locais, como é o caso de Setúbal, Coimbra, S. João da
Madeira, Braga, Viana do Castelo ou Guimarães vem acrescentar complexidade a
esta movimentação.
O encerramento do Instituto Superior
Técnico em 1973/74, a Crise dos Coros em Abril de 1973 - principalmente no
Porto -, são alguns dos momentos que marcaram este crescente clima de
contestação.
Na fase final do regime fascista, a
situação era de uma quase total perda de controlo governamental sobre as
movimentações e actividades do movimento estudantil.
Em 24 de Abril de 1974, praticamente todo
o ensino está em pré-estado de sítio. As greves, manifestações e
insubordinações atingem patamares sem paralelo.
Depois de 1969, e continuamente até ao 25
de Abril de 1974, o movimento estudantil nunca deixou de questionar a política
governamental.
Em Guimarães, cidade de onde sou
originário, a primeira manifestação depois do 25 de Abril foi realizada no dia
26 de manhã, e composta quase exclusivamente por estudantes.
A Associação Académica de Coimbra só é
novamente entregue aos estudantes em 27 de Abril de 1974, quando o reitor
devolveu as chaves do edifício.
Estes e outros episódios podem ser
abordados noutras oportunidades. No trabalho desenvolvido em http://1969revolucaoressaca.blogspot.pt/ muitos deles são relatados na
documentação aí disponibilizada.
O autor destas linhas não foi
interveniente directo em qualquer destes acontecimentos nem tem nenhuma
formação específica em História, pelo que se arrisca a ter cometido erros que
por certo outros corrigirão. A minha participação no movimento estudantil e
associativo, embora intensa e em múltiplas fases, apenas teve início depois de
1974.
Ao passarem 50 anos sobre a Crise
Académica de Coimbra de 1969, e 45 sobre o 25 de Abril de 1974, é com muito
gosto que me associo desta forma à comemoração destes aniversários.
Abril de 2019
José Gualberto
de Almeida Freitas
Paulo Lopes representante da
AEHLP, Gualberto Freitas. Alberto Martins e Paulo Esperança representante da
AJA-Norte durante a apresentação do livro "O Processo"
|
Exposição "1969 - O ano da Crise Académica" na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto
Para ver as restantes fotografias clik AQUI |
Convite para a apresentação do livro "O Processo"
Para ver mais fotografias clik AQUI |
Entrevista na Rádio Universidade de Coimbra - RUC
Diário de Noticias
Rádio Universidade de Coimbra - RUC
https://www.ruc.pt/2019/04/26/livro-conta-os-detalhes-ineditos-da-perseguicao-dos-estudantes-de-69/
http://noticias.uc.pt/multimedia/videos/uma-comemoracao-de-liberdade-para-assinalar-50-anos-da-crise-academica/
Diário de Coimbra
Diário das Beiras
Programa das comemorações dos 50 anos da Crise Académica de 1969
http://noticias.uc.pt/multimedia/videos/uma-comemoracao-de-liberdade-para-assinalar-50-anos-da-crise-academica/
Blogue “Causa Nossa” – Texto de Vital Moreira
Exposição
“1969 o ano da Crise Académica” nas Repúblicas dos Corsários e Galifões
Para ver outras fotografias clik AQUI |
Murais comemorativos dos 50 anos da Crise Académica e 45 anos do 25 de Abril - I Fase
Pinturas Murais executadas para comemorar os 50 anos da Crise Académica de 1969 e os 45 anos do 25 de Abril de 1974
Pintadas nas paredes da República dos Corsários e dos Galifões em Coimbra
A Cabra Nº 295 - Associação Académica de Coimbra
Para ver todo o documento clik AQUI |
Exposição
do CITAC e do TEUC sobre os 50 anos da Crise Académica e os 45 anos do 25 de
Abril
Para ver outras fotografias clik AQUI |
Exposição de Cartazes em Famalicão no 25 de Abril de 2019
Para ver outras fotografias da organização clik AQUI |
Divulgação da exposição no jornal online VilaNova.
Faz hoje 5 anos que se iniciou o projecto deste Blog.
Nessa altura assumimos o compromisso de todos os dias publicar documentos, saídos há 40 e 45 anos respectivamente. Calculamos na altura que no total seriam publicados 10.000 documentos, entre panfletos, targetas, jornais, autocolantes, cartazes, etc.
Centenas de organizações, das mais conhecidas às mais obscuras, centenas de publicações, clandestinas ou legais foram assim trazidos à luz da Internet. Muitos destes documentos nunca tinham sido publicados e entre eles estão alguns de que se conhecia existência mas não era conhecido nenhum exemplar.
De entre as diversas rubricas que podem aqui ser exploradas é de realçar, a grande quantidade de materiais referentes ao Movimento Estudantil e organizações políticas de estudantes, sinal evidente da importância que este sector teve durante esses anos.
Por outro lado uma série de outros marcadores permitem pesquisas como a localidade ou a data da sua publicação.
Pode-se hoje dizer que os objectivos iniciais foram claramente alcançados.
Com efeito todos os dias, sem nenhuma falha, foram publicados documentos que neste momento totalizam mais de 11.000.
A maioria destes documentos foi transcrito total ou parcialmente para texto. Este trabalho permite que possam ser consultados por utilizadores de diferentes línguas, utilizando os dicionários automáticos que esta ferramenta possui. Foi uma enorme vantagem. Hoje mais de metade de quem consulta este trabalho não tem o português por língua materna.
É com algum orgulho que podemos afirmar que nenhuma pessoa ou organização, oficial ou particular que se dedique a este tipo de trabalho se aproxima do que aqui está feito.
Acresce que todos os documentos estão completamente disponíveis sem qualquer Protecção.
Esta fase do trabalho terminará no próximo dia 25 de Abril, quando será possível ter acesso a uma base documental contínua de 10 anos que começa a 18 de Abril de 1969 e vai até ao 25 de Abril de 1979.
A partir de hoje e até ao 25 de Abril, serão chamados para a primeira página alguns dos documentos publicados no início do trabalho. Não é por acaso que o primeiro foi uma targeta, em que se anunciava que o Presidente da A.A.C. tinha sido preso.
Terminada esta fase e após uma pausa, logo veremos que outros passos serão dados na continuação deste trabalho. Alguns podem desde já ser avançadas. A publicação de documentos do mesmo período histórico irá continuar, ao mesmo tempo que documentos já publicados serão melhorados ou publicados integralmente. O blog irá em breve ser reorganizado para permitir que a pesquisa seja mais facilitada.
Na base de dados existem neste momento pelo menos outros 10.000 que estão em condições de virem a ser publicados.
Durante estes 5 anos muitos outros materiais foram entrando para o arquivo que serve de base a este Blog, juntando-se a muitos outros que já lá se encontravam.
A base de dados tem neste momento aproximadamente 70.000 documentos, digitalizados num conjunto que mais de 300.000 páginas. Como é evidente muitos deles não correspondem ao período que é coberto por este Blog. Muitos outros aguardam tratamento. A seu tempo veremos como será possível fazer a sua divulgação.
Embora eu seja a face mais visível deste projecto, muitas pessoas colaboraram das mais variadas formas para a sua execução. A todos eles um imenso obrigado. Sem o seu contributo nada disto seria possível.
É igualmente importante referir que nem um cêntimo de dinheiro público foi directa ou indirectamente utilizado.
A todas as pessoas que tem consultado, ou venham a utilizar este arquivo, tenho a dizer que é um privilégio poder contribuir para que a memória de um período tão importantes da nossa História possa estar disponível.
18 de Abril de 2019
De maneira a evitar alguma possível confusão, tenho a declarar que não participo nem nunca participei em nenhuma espécie de “rede social”.
17-04-2019
Em homenagem ao Júlio Pomar - 23-05-2018
9 de Maio de 2018
Nos 200 anos do seu nascimento
Targetas distribuídas em algumas manifestações no 1º de Maio de 2018
A um ano do final deste projecto, pelo menos no que diz respeito aos objectivos que nos propusemos, é altura de fazer um pequeno balanço e apresentar algumas inovações.
Há quatro anos propusemos publicar diariamente documentos que fariam respectivamente 40 e 45 anos no dia em que seriam republicados. Foi igualmente referido que no final deste processo que terminará em 25 de Abril de 2019, seriam disponibilizados cerca de 10000 documentos.
Há quatro anos propusemos publicar diariamente documentos que fariam respectivamente 40 e 45 anos no dia em que seriam republicados. Foi igualmente referido que no final deste processo que terminará em 25 de Abril de 2019, seriam disponibilizados cerca de 10000 documentos.
Desde ai foram disponibilizados 9400. No
final, o objectivo dos 10000 será muito ultrapassado.
Até hoje este trabalho foi já consultado
mais de 150000. A média dos últimos meses ultrapassa as 8000. Não é certamente
viral, mas esse também nunca foi o objectivo.
Uma parte significativa das pesquisas
deixou de ser o publicado no dia, para passar a ser o de consulta por datas ou
temas do material já disponibilizado.
Desde o princípio que há consciência de
uma série de fragilidades. Algumas foram sendo ultrapassadas, outras ainda não.
Ainda não foi possível fazer passar esta documentação para uma base de dados
que permita um outro tipo de pesquisa e de consulta. A seu tempo se verá como o
faremos.
Como aspecto positivo podemos afirmar que
a partir de hoje e até de aqui a um ano passaremos a incluir em formato Pdf uma
parte significativa dos documentos.
A maioria dos jornais ou revistas que até
aqui apenas era publicada a 1ª pagina e um artigo passaram a ser publicados
integralmente.
O título “O Povo de Guimarães” serviu como
ensaio e desde o Nº 001 está já todo neste formato.
Das colecções que estão para traz veremos
quais são as possibilidades de aos poucos irem sendo actualizados. Não só neste
aspecto mas igualmente na revisão de alguns textos e na correcção e organização
das etiquetas.
A actualização das entradas no sector
“Organizações e outros”, nomeadamente no disponibilizar novas entradas, assim
como uma nova secção em que seja fornecida informação mais detalhada sobre as
“Publicações” está há muito em agenda, mas ainda não foi possível concretizar.
Desde o princípio que tem sido feito um
esforço de transposição dos documentos para texto que talvez agora possa ser
melhor compreendido.
Essa transposição permite duas coisas
fundamentais.
A primeira é a entrada nos dicionários do
Google e que a partir daqui possam ser lidos em qualquer língua disponível. Em
termos de consultas Portugal está em terceiro lugar, e a língua portuguesa
representa 60%.
A segunda permitir a pesquisa por
palavras. Aqui a base de dados fará toda a diferença em termos de pesquisa. O
blogue não tem as ferramentas que o permitem.
Mas 44 anos após a queda do fascismo em
Portugal, o caminho continua a fazer-se caminhando.
25 Abril de 2018
Brochura
distribuída no dia 21 de Abril de 2018 no almoço de homenagem a Francisco
Martins Rodrigues
Para ver todo o documento clik AQUI |
Entrou por doação, vindo de Coimbra, um
importante arquivo.
É composto principalmente por um conjunto
de documentos entre 1967 e 1975.
Tem cerca de 15 pastas, com muitas
centenas de documentos.
Pode dividir-se no essencial em 5
conjuntos.
Algumas dezenas de cartazes, com destaque
para os cartazes da CDE de 1969 e 1973, cartazes relativos ao movimento
estudantil, e um conjunto referente ao PCP e UEC de antes e do após 25 de Abril
de 1974.
Documentos diversos sobretudo sobre o
movimento sindical.
Documentos relativos à oposição
democrática – CDE, principalmente relacionados com as eleições de 1969 e 1973.
Estes documentos veem complementar, entre
outros que tem sido disponibilizados, o arquivo central de Lisboa da CDE/MDP,
que ainda aguarda a possibilidade de ser tratados como merece.
Documentos relacionados com o movimento
estudantil, com enfoque na crise de 1969 e anos seguintes. Destes fazem parte
um conjunto organizados cronologicamente, que se veio integrar no já apreciável
conjunto de documentos sobre este tema existentes, permitir também datar muitos
outros.
De destacar ainda um exemplar completo do
processo disciplinar de 3 Julho de 1969, a 40 estudantes de Coimbra, levantado
pelo Ministro da Educação Nacional, e do qual fazem parte 3 volumes; Acusação,
Defesa e Peças do Processo, num total de 126 entre as quais os
depoimentos de 79 dos principais intervenientes na crise académica de 1969 em
Coimbra.
Documentos do PCP, com particular
incidência na Organização Estudantil de Coimbra do PCP, e a partir de 1972 para
a sua sucessora UEC.
Este conjunto de imprensa clandestina;
Avante!, O Militante, A Terra, O Têxtil para além de diversas brochuras como o
“Se fores preso camarada…” (4ª edição de 1963), “O radicalismo pequeno-burguês
de fachada socialista” (1ª edição 1970 - Álvaro Cunhal), entre outros.
Há ainda um importante conjunto de
documentos internos, Organização Estudantil de Coimbra do PCP, da UEC e do
próprio PCP, correspondência interna entre o C.C. da UEC e o C.C. do PCP,
Comissão Delegada da UEC no Estrangeiro e o Executivo da UEC no interior,
correspondência com organizações internacionais, relatórios de recrutamento de
militantes, informações sobre elementos da PIDE, balancetes das contas da UEC
de Setembro de 1972 até ao fim de 73, listas de contactos de militantes, entre
outros, assim como diversos manuscritos relativos a diferentes circunstâncias.
Um vasto conjunto de comunicados
clandestinos da UEC e do PCP.
Um vasto conjunto de comunicados
clandestinos da UEC e do PCP.
A quantidade e diversidade de documentos, assim como a forma como estava organizado, leva a pensar que ele é o registo do
que foi uma das mais importantes organizações estudantis do PCP, quer antes
quer nos tempos posteriores ao 25 de Abril.
Este arquivo é para este projecto
importante por diversos factores. Porque vem completar outras colecções, e vem
ajudar a suprir a deficiência existente em relação à imprensa clandestina do
PCP. Porque o Partido Comunista Português é aparentemente o único partido com
uma política de arquivos coerente, e por isso é raro aparecer um arquivo “de
organização”. E por fim porque os documentos permitem um conhecimento mais
aprofundado do que era a intervenção do PCP-UEC, numa das principais frentes de
luta – movimento estudantil na Universidade de Coimbra – durante este período.
Estes documentos depois de organizados e
digitalizados serão progressivamente disponibilizados quer no blog, quer
noutras plataformas.
Os meus agradecimentos às pessoas que
estiveram envolvidas neste processo pelo excelente contributo que tiveram para
ajudar preservar da memória da nossa história recente.
Com amizade, um muito obrigado.
Gualberto Freitas
9 de Outubro de 2017
De onde surgiu este Blogue?
Este Blogue é feito a partir de um fundo
documental, de diferentes origens, que tem sido “adquirido”, e trabalhado ao
longo dos tempos.
A partir deste fundo documental, composto
de aproximadamente 40.000 documentos, distribuídos por 300 organizações,
dos quais 25.000 são panfletos, 5.000 publicações, 10.000 cartazes e outros,
com um total de aproximadamente 200.000 páginas.
Todos os documentos disponibilizados foram
digitalizados a partir de originais.
A parte que é disponibilizada, é uma pequena
parte de um arquivo muito mais vasto, que ainda não encontrou condições de ser
posto à disposição.
Existem igualmente muitos outros
documentos em diferentes fazes de tratamento, dos quais destacaria pela sua
importância o arquivo central do MDP/CDE.
Exposições de materiais, em que para além
de outras, destacaria a da Sociedade Martins Sarmento em Abril de 2000, da
galeria “Zé dos Bois” em 2009 e na Biblioteca Almeida Garrett em Abril de 2010.
O livro “A guerra dos Cartazes”, editado nos 35 anos do 25 de Abril, de que é possível recolher mais informação em
lembrabril.blogspot.com/
lembrabril.blogspot.com/
apresentação do livro
"A Guerra dos Cartazes" (25 de Abril de 1974 ...
O porque de um nome?
1969-Revolução-Ressaca
Este Blogue tem por fim disponibilizar
documentos do período entre, 17 de Abril de 1969 e 25 de Abril de 1979.
A disponibilização dessa documentação
faz-se em dois períodos simultâneos:
De 17 de Abril de 1969 a 24 de Abril de
1974,
e de 25 de Abril de 1974 a 25 de Abril de
1979.
Durante 5 anos, todos os dias são
editados, os documentos publicados, 40 e 45 anos atrás.
O objectivo final, é o de disponibilizar de
10 a 15 mil documentos relativos a este período.
Até agora tem sido editados cerca 200
documentos por mês, média que se manterá até ao fim.
1969
A Portugal chegam os ecos do que se
passara pelo mundo em 68; a contestação à guerra do Vietname, Woodstock, o Maio
de 1968, a invasão da Checoslováquia, a “Primavera marcelista”, a morte do
Salazar, entre outros que fazem deste ano, um ano de grande agitação no
panorama internacional.
Em 17 de Abril de 1969, tem início em
Coimbra uma das maiores crises estudantis que o regime vai sofrer até ao seu
fim, em que a repressão que se abate sobre os estudantes, universitários mas
também cada vez mais do secundário, vai criar um clima de contestação ao regime
e à guerra, que vai aumentar e manter-se até 1974.
Até ao 25 de Abril de 74 uma grande parte
da propaganda era clandestina, mas existem também inúmeras publicações legais e
semi-legais. Muitas destas publicações são editadas pelas Associações de
Estudantes, mas que ao longo do tempo foram usadas de diversas formas.
Esse é um período, em que surgem as mais
diversas organizações, cada uma delas publicando panfletos, tarjetas, jornais,
etc.; editados das mais variadas formas e nos mais diferentes materiais, e
produzidos e distribuídos em condições muitas vezes a roçar o inconcebível.
Durante este período multiplicam-se as
greves, manifestações, meetings, prisões, expulsões, incorporações no exército,
invasões das escolas e confrontos com a polícia e os “gorilas”, estudantes
feridos a tiro e até um assassinato às mãos da Pide, etc.
Os níveis de repressão atingem valores que
nem durante o período de governação de Salazar, são usuais.
As dificuldades em editar e distribuir
estes documentos, muitos deles com edições extremamente precárias e reduzidas,
é uma tarefa hoje quase inimaginável.
Estas circunstâncias levam a que
muitas delas sejam raras, existindo casos um que se sabe da sua existência, mas
não se conhece nenhum exemplar.
Revolução
Com o 25 de Abril é a explosão!
A partir daqui, entra-se no processo PREC.
Neste período, dá-se por um lado o aparecimento à luz da legalidade das
organizações até ai clandestinas e ao mesmo o aparecimento de inúmeras formas
de organização popular, desde comissões de moradores e de trabalhadores, até
organizações no interior das forças armadas, passando por todo o tipo de
iniciativas das mais diversas proveniências.
No pós 25 de Abril, a extrema profusão de
materiais, publicados em todo o lado; dos bairros às escolas, passando por todo
o tipo de estruturas, faz com que seja difícil ter uma visão de conjunto com
alguma nitidez.
Ao mesmo tempo dá-se uma explosão gráfica,
que vem dar um novo colorido a estes materiais. Especial referencia para os
cartazes, autocolantes, murais, entre outros.
Ressaca
Estes dois períodos, por razões opostas,
implicam problemas que acabam por ter um resultado similar. A dificuldade em coleccionar
estes documentos.
É destes dois conjuntos que se produz o http://1969revolucaoressaca.blogspot.pt/
O que se pretende não é contar uma versão
da história, mas preservar e divulgar os documentos que então foram produzidos,
de forma a que se possa ter uma melhor ideia desses tempos.
Este Blogue nunca será viral, pelo facto
de que notícias de há 45 anos… não são notícia…
O objectivo é isso sim o de acrescentar,
fontes de conhecimento que permitam ter uma ideia mais aproximada, do que foi
este período tão apaixonante da história deste país.
O que traz este Blogue de novo?
Documentos, muitos deles inéditos;
A transcrição para texto de uma parte
significativa deles, permitindo a utilização de tradutores automáticos, ou a
pesquisa por palavras.
Este trabalho não teve, e não tem nenhum
apoio institucional de qualquer espécie, é isso sim fruto da necessidade de
preservar e divulgar, uma parte das pequenas histórias, que no seu conjunto,
acabam por dar a conhecer o que foi o todo desses tempos.
José Gualberto Almeida Freitas
ENTREVISTA NA R.U.C. EM 20 ABRIL DE 2017
ARQUIVO REAL REPÚBLICA CORSÁRIOS DAS ILHAS
Foi possível durante o ano passado, uma
equipa, deslocar-se durante vários dias para Coimbra, com o objectivo de
proceder à digitalização de documentação, particularmente no que diz respeito
ao arquivo José Noronha Bretão da Real República Corsários das Ilhas.
Esta foi a segunda vez que uma missão
deste tipo se realizou em Coimbra.
Em boa hora foi feito uma vez que a
República 5 de Outubro, foi pouco depois destruída por uma aplicação cega da
nova “Lei das Rendas”.
O arquivo da 5 de Outubro é composto por
alguns milhares de documentos – panfletos e publicações entre outros – que vão
de meados dos anos 60 até ao final dos anos 70.
É um arquivo ligado no essencial ao PCP e
organizações afins (UEC, UJC, UNEP, etc.) , tendo igualmente uma grande
quantidade de documentos ligados ao movimento sindical, com particular
incidência no fim de anos 60 e primeira metade dos anos 70.
Para além destes documentos existe, como
não poderia deixar de ser, grande quantidade de documentos ligados às
movimentações estudantis com particular destaque para Coimbra mas igualmente de
Lisboa e Porto.
Os documentos desta República integram já
desde o início a publicação deste Blog.
Infelizmente na altura não foram tiradas
fotografias que possam dar uma melhor ideia da sua dimensão.
Sobre as Repúblicas, já muito foi dito e
escrito e existe ampla bibliografia. Não posso no entanto deixar de referir que
estes centros de convívio e cultura estudantil, por onde passaram gerações de
estudantes, que vieram ao longo das suas vidas a usufruir das aprendizagens de
camaradagem, organização e participação cívica estão com graves problemas de
subsistência.
Nelas está uma parte significativa da
nossa memória colectiva.
Durante o ano passado foi possível
terminar a digitalização do Arquivo dos Corsários.
O arquivo dos Corsários tem algumas
particularidades que merecem ser narradas.
Os corsários foram fundados em 15 de
Janeiro de 1960 por estudantes vindos dos Açores.
Pelos Corsário passaram
algumas dezenas de elementos, muitos dos quais directamente intervenientes nos
mais importantes acontecimentos no movimento estudantil desses períodos.
A
título apenas de exemplo pode-se referir, Carlos Manuel Natividade da Costa
Candal “Caga Fogo”, que tripulou a “Nau” de 10 Novembro de 1960 a Outubro de
1961, ocupando o cargo de 2º Telegrafista, período durante o qual foi eleito Presidente
da Direcção da A.A.C.
O arquivo foi sendo acumulado até ao final
dos anos 70, altura em que em circunstâncias que ignoro foi depositado nas
águas furtadas. Quando se realizaram obras no início dos anos 90 foi
redescoberto.
É constituído por cerca de 40 pastas e
outros volumes, com milhares de documentos, que vão do início dos anos 60 até
ao final dos anos 70, a que acresce um importante núcleo dos anos 90,
nomeadamente sobre a chamada “Guerra das Propinas”.
É um arquivo extremamente rico em documentação
relacionada com o movimento estudantil.
Desde 1961 estão documentadas as mais
diversas situações e episódios, relacionados com a Academia de Coimbra, desde o
relacionamento entre repúblicas a situações de luta estudantil, relacionamento
entre academias, movimentações político estudantil, documentos das mais
diversas organizações politicas, publicações das mais diversas proveniências,
documentação relacionada com a casa. Entre muitos outros itens.
Este fundo documental tem já servido para
a consulta de diversos estudiosos, de que se pode salientar, a tese de
Doutoramento do Miguel Cardina, sobre o maoismo em Portugal até 25 de Abril de
1975 “Margem de certa Maneira”.
Foi agora possível levar a efeito tal
tarefa. O facto de ter sido possível instalar o equipamento necessário para tal
na Real República dos Corsários das Ilhas, a onde nos instalamos durante algum
tempo, não movimentando para fora da “Nau” a documentação, foi importante para
o resultado final. A circunstância de também ter a honra e o prazer – mais
prazer que honra – de ser Repúblico e Corsário das Ilhas, também ajudou
certamente.
É neste momento possível afirmar, que todo
o tratamento digital deste arquivo foi concluída e está a partir deste momento
integrado na base de dados de onde este Blog é proveniente.
Estão em cursos outros trabalhados, de que
a seu tempo será dada noticia.
Não posso deixar de expressar o meu
agradecimento a todos os actuais e antigos Repúblicos e em particularmente aos
Corsários, pelo contributo que deram para que este trabalho tenha sido
possível.
28 Novembro 2016
ARQUIVO DO MDP/CDE
Há aproximadamente
um ano, tomei conhecimento de que um arquivo, de uma importante organização
política, estava numa situação de alguma precariedade e que era importante
transferi-lo, de forma a que a sua preservação fosse assegurada.
As fotografias publicadas correspondem à segunda transferência de documentos. |
Desde sempre fui um amante da “papelada”.
Penso que o preservar da memória, é uma obrigação de todas as gerações, e a
nossa tem feito o seu caminho.
Ao longo dos tempos, tenho vindo a
constatar que muitas pessoas e organizações, compilaram múltiplos arquivos, com
a preocupação de os usarem como instrumento de conhecimento, e memória.
Muitos deles, continuam todos os dias a
perder-se, sem que por vezes nos aperceba-mos da sua importância.
Diversas instituições se tem dado ao
trabalho de recolher, tratar, preservar, e divulgar, parte desta documentação.
Entre estas são de referir pela sua
especial relevância, a “Torre do Tombo”, o “Centro de documentação 25 de
Abril”, o “Museu da Resistência”, o “Museu da Imprensa”, uma parte
significativa das Universidades, entre outras.
Há igualmente um grupo de pessoas que se
tem dedicado a preservar parte deste espólio, recorrendo muitas vezes a
conhecimentos pessoais, ou divulgando as possibilidades que existem para a sua
conservação.
Muitos tem sido encontrados em condições
particularmente difíceis até de acreditar. Casas em demolição, caves ou aguas
furtadas, são apenas alguns dos exemplos.
Fica aqui um apelo, a quem pelas mais
diversas razões não quiser ou não poder preservar esta documentação, para
entrar em contacto, para se poder encontrar formas de preservação e divulgação
desta documentação.
Existem também, pessoas e “organizações”
que não tem pouca ou nenhuma, confiança nas “instituições”, e como tal não
estão dispostos a fornece-la, a não ser em determinas circunstâncias muito
específicas.
Tenho tido o privilégio de merecer a
confiança, de um número significativo de algumas destas.
Este processo contínua em curso e com boas
perceptivas de evolução.
No entanto o que leva a escrever esta nota
é a entrada de um espólio da maior importância para a compreensão da história
de Portugal dos últimos 50 anos.
Este não é o maior arquivo, nem o mais
importante que constituem a nossa base de dados.
É no entanto de extrema importância.
Falamos de uma parte muito significativa
do arquivo central das CDE-MDP.
Este Arquivo é composto dezenas de caixas
e pastas.
Dele fazem parte, milhares de documentos:
Correspondência, Fichas de militantes,
Cartazes, Jornais, Autocolantes, Comunicados, Dossiers, Cassetes de vídeo e
som, Bobines de som, Relatórios das mais diversas proveniências, Actas das
comissões politicas, Livros com a compilação dos “Diários da Assembleia
Constituinte”, etc., etc..
Estes documentos entraram numa fase de
análise e organização, que irá no entanto durar bastante tempo, atendendo à
quantidade e diversidade do material existente.
Estamos a ter como prioridade, o material
a que temporalmente este Blogue se dedica – entre 1969 e 1979 – como forma, de
logo que possível, passar a integrar o material que vamos disponibilizando.
É também importante afirmar, que nenhum
dos documentos disponibilizados, neste Blogue, até ao momento, veio dos
documentos que agora acabaram de entrar.
Pela leitura feita até ao momento, do
conjunto da documentação, é possível afirmar que o acervo, contempla períodos
bastante anteriores a 1969, e vai até aos anos 90.
Entre eles encontram-se por exemplo,
muitos comunicados anteriores ao 25 de Abril, referentes às eleições de 1969 e
1973, o original do documento da legalização do MDP-CDE, junto do tribunal no
pós 25 de Abril, actas das reuniões da comissão política nomeadamente, das
semanas anteriores ao 25 de Novembro de 1975, uma parte significativa da contabilidade,
o “Relatório sobre a invasão de Timor Leste”, entre muitos outros.
Esta documentação foi nos últimos meses,
transferida de Lisboa para Guimarães.
A todas as pessoas que participaram na
transferência dos documentos, os meus mais sinceros agradecimentos, com
especial destaque para os contributos do Frederico, do Orlando e do António.
Contribuíram certamente para preservar uma
parte da memória deste País.
Com a ajuda do S. Pedro a operação correu
muito bem. De todas as vezes em que o transporte foi feito, fomos sempre
abençoados por chuva abundante que chegou de uma das vezes a por em risco uma
parte do próprio arquivo. Mas como a ultima parte foi transportada no dia de
Stº António, aqui fica o agradecimento aos Santos.
29 de Julho de 2015
Há cerca de um ano arrancou este projecto.
Ultrapassou as 20.000 consultas.
Durante este ano, muitas vezes as coisas
estiveram tremidas, mas até agora temos conseguido cumprir os objectivos
principais que foram propostos.
Propusemos que durante 5 anos iríamos publicar
todos os dias documentos saídos ou publicados em panfletos, jornais, brochuras,
tarjetas, cartazes, auto-colantes, etc.
Temos conseguido até agora cumprir o
prometido com a publicação durante este ano de 2500 “documentos”.
Durante os próximos anos vamos tentar
continuar a fazer o mesmo.
Neste tempo foi igualmente necessário
renovar a maior parte do equipamento informático (processo que ainda continua)
que permite hoje ter uma maior capacidade de tratamento dos documentos que
estamos a disponibilizar.
Temos consciência de que muitos dos
documentos que estamos a disponibilizar, são já sobejamente conhecidos, pelas
pessoas ou entidades que se interessam por este período da história
contemporânea de Portugal.
Contudo a passagem para texto, juntamente
com as capacidades de tradução automática, dos documentos veio permitir que,
hoje eles estejam acessíveis a um número muito maior de pessoas que se possam
interessar por este assunto.
Prova disso é a quantidade de entradas de
países de língua não portuguesa, que tem vindo a ganhar uma crescente
percentagem.
Temos também consciência que estando a
publicar documentos que já eram conhecidos, não foram até agora
disponibilizados publicamente.
O exemplo das publicações periódicas,
sobretudo depois do 25 de Abril, como o “O Grito do Povo”, “Revolução”, “Luta
Popular”, “Unidade Popular”, etc., etc., não têm até agora paralelo com o
trabalho que aqui está a ser feito.
A acrescer a isto temos o orgulho de ter
tido a possibilidade de ter disponibilizado documentos como o “Que Fazer?” dos
Comités Marxistas Leninistas - Mao Tsé Tung (publicado a 10 de Janeiro deste
ano – 1970) ou “A CLASSE OPERÁRIA” (publicado a 10 de Abril deste ano) – 1970),
que nas últimas obras de referência (**) sobre este assunto, são referidas como
“não tendo sido possível consultar qualquer exemplar”.
Ainda não chegou a altura de revelar de
onde vieram o conjunto destes documentos – que não é uma fonte, são múltiplas.
Continuam por cumprir “os agradecimentos”
a quem de alguma forma contribuiu para a constituição deste arquivo.
Entrou há algum tempo o “Arquivo Central”
de uma das maiores e mais importantes organizações políticas do país do pós
1969, que está neste momento a ser trabalhada, e que devido à sua dimensão está
numa fase de pré organização.
A seu tempo será dada noticia detalhada
desta e de outras situações.
Nos próximos quatro anos vamos ver surgir
e morrer movimentos sociais, partidos, organizações de todo o tipo, publicações
de toda a ordem, - algumas ressuscitam!??
Vem aí tempos muito interessantes. A
partir de finais de 1970 as organizações clandestinas vão multiplicar-se e por
em causa a oposição tradicional.
Com elas vão multiplicar-se as
publicações. É uma História que vai ser bonito acompanhar
Em 1975, a partir do 11 de Março entramos
no PREC.
Até ao 25 de Novembro vem aí o “verão
quente”.
Num tempo de desesperança é importante que
mesmo com quase tudo perdido se mantenha a esperança de preservar o fundamental
– a LIBERDADE
Há sempre alternativas. Toda a Vida é uma
improbabilidade e a todo o tempo encontra alternativas.
O que é antinatural é o caminho único.
Quando a “democracia” passa a ser
adversária da LIBERDADE algo está muito errado.
Com um forte “O Povo Português Vencerá! “
Desejo-vos um bom dia de lembrança, de
quando quase foi possível ser Livre.
(**)José Manuel Lopes Correia “A Imprensa
clandestina e do exílio no período 1926-1974” - “Que Fazer?” pag. 96 “A CLASSE
OPERÁRIA” pag. 99
José Pacheco Pereira - “Armas de Papel”
“Que Fazer?” pag. 476, 477, “A CLASSE OPERÁRIA” pag. 265
25 de Abril de 2015
O falecimento do Professor Mariano Gago,
deixa o país ainda mais pobre do que o que já é.
A par de todas as qualidades que tem sido
destacadas no seu percurso de vida, o Mariano Gago foi enquanto estudante, um
dirigente que participou activamente, na luta contra a deposto regime fascista.
Dirigente clandestino de diversas organizações, participou desde estudante até
ao seu ocaso, numa corrente de resistência da Academia às forças do obscurantismo
e da ignorância.
Infelizmente esta corrente está hoje muito
enfraquecida.
Aparentemente hoje a Academia produz
“salsichas para exportação”, em vez de produzir cidadãos.
Nunca foi fácil produzir intelectos como o
do Mariano Gago, até porque eles serão sempre raros.
A questão é se hoje a Academia permite que
eles possam – mesmo contra todas as dificuldades – florescer.
Muitos dos documentos que estamos e iremos
divulgar tiveram a participação direta do Professor.
Tive o privilégio, e o prazer de trabalhar
com o Professor Mariano Gago, nos anos de 1994/95 no Conselho Nacional de
Educação, na Comissão - por si presidida - de Ensino Superior e Investigação
Cientifica, a onde de certa forma se começou a delinear o que viria a ser a sua
obra enquanto ministro, e que é hoje unanimemente aplaudida.
O Mariano Gago deixou-nos jovem.
À sua família e amigos os meu singelo
respeito.
18 de Abril de 2015
Quando passam 6
meses sobre o início deste projecto, continuamos a tentar melhorar o desempenho
desta ferramenta com o objectivo de apoiar a divulgação do conhecimento do
período histórico em questão.
Foram, até hoje,
publicados mais de 1000 documentos e temos recebido um inestimável número de
sugestões.
A situação que
existia no blogue não era, no entanto, capaz de dar resposta a algumas das
situações.
É o caso dos
comentários que apenas podiam ser efectuados a um documento em concreto.
No sentido de
tentar ultrapassar esta situação, abrimos a partir de hoje uma nova “página”
onde passa a ser possível deixar comentários gerais sobre o Blogue.
Ficam igualmente
para breve novidades sobre a entrada de novos documentos para o arquivo, de que
daremos oportunamente notícia.
Hoje damos
igualmente notícia da entrada de um conjunto de cerca de 200 cartazes,
oferecidos pelo Pedro Alves do Centro de Estudos Operários Memória-Laboral CEO
M-L.
O período
abrangido por estes cartazes vai desde anos 40 até à actualidade. Estes
materiais serão trabalhados e integrarão o arquivo, depois serão
disponibilizados para consulta o mais rapidamente possível.
Não é a primeira vez que os membros do CEO M-L têm
oferecido, trocado ou cedido documentos para a sua digitalização.
Mantenho, há anos, uma relação de amizade e
camaradagem com o Pedro e o António Alves, que muito têm contribuído para a
concretização deste protejo.
Ainda estou em falta com muita pessoas e instituições
que tiveram as mais diversas participações na criação do arquivo que é a base
deste blogue.
Fica a promessa de rapidamente corrigir esta falha.
18 de Outubro de 2014
Há um mês que começamos a publicar esta série de
documentos.
A ideia inicial tinha previsto um outro formato, mas
tal não foi possível concretizar. Em função disto foi necessário avançar, sem
que todas as condições estivessem reunidas, como aliás ainda hoje não estão.
Não é possível, de momento e tecnicamente, fazer a
reprodução em texto de todos os documentos publicados, nomeadamente os muitos
jornais e revistas que surgiram depois do 25 de Abril de 1974, ou novos
documentos, ou com novos formatos e edições.
Por esse motivo iremos apenas disponibilizar, ou a 1ª
página, ou esta e a última, assim como algumas fotografias dessas edições e, em
alguns casos apenas um artigo, como por exemplo os editoriais.
Logo que seja possível ultrapassar as limitações
existentes de momento, faremos a introdução integral dos conteúdos.
Os documentos que estamos a disponibilizar já tiveram
uma vida muito razoável e nem sempre muito fácil. Alguns deles são verdadeiros
sobreviventes.
Em primeiro lugar, há 40 ou 45 anos conforme o caso,
foi preciso pensar o que escrever e como o publicar.
A seguir foi necessário distribui-los.
Depois foi necessário que, em alguns casos, durante
dezenas de anos alguém os preservasse, às vezes nas condições mais impensáveis
e que, a seguir, tivesse sido possível resgatá-los dos sótãos ou das caves da
memória.
Estes sótãos e caves foram, em muitos casos, os
grandes aliados. Um dos grandes inimigos foram as mudanças de casa.
Houve também aliados intangíveis. Muitas pessoas
preservaram e preservam documentos. Havia uma certa noção de guardar a memória
para o futuro, de algo que se pensava ser importante e de que se era
testemunha.
Estes documentos têm múltiplas e diversificadas
origens que, a seu tempo, revelaremos.
Foi igualmente necessário organizar os documentos
de forma cronológica e por organização/colectivo ou publicação.
Em seguida, foi necessário digitalizar toda a
documentação assim como tratá-la, até chegar ao ponto dos seus conteúdos
poderem ser apresentados como texto editável.
Durante este caminho, foi necessário tentar
ultrapassar diversas dificuldades, sendo que umas foram conseguidas e outras
nem por isso.
Muitos dos originais anteriores ao 25 de Abril foram
produzidos em condições técnicas, que hoje, praticamente ninguém com menos de
30 anos faz a mais pequena ideia de qual foi o processo.
Acresce que a sua preservação em condições de
clandestinidade tinha, em muitos casos, custos acrescidos.
Muitos documentos estão também incompletos como é o
caso, por exemplo, de alguns documentos enviados para a censura como o “O Tempo
e o Modo”, que já estamos a publicar.
Outro factor a ter em conta é que, mesmo sem a
aplicação do acordo ortográfico, o tipo de linguagem que era então utilizada,
bem como a maneira como era escrita era muito variada e parecerá hoje para
algumas pessoas, muito estranha.
Acresce que muitos documentos têm erros nos próprios
originais.
E mesmo situações que não são erros, como por exemplo,
os hífens que eram colocados para mudar de linha de escrever, ou para mudar de
coluna quando era impresso por “tipos”, aparecem hoje como erros nos corretores
automáticos de escrita.
Fazer a sua transição hoje para texto editável, é pois
um trabalho algo complexo e demorado.
Um exemplo de como os textos por vezes aparecem é o
documento publicado no dia 12 de Maio do “PRP-BR” em que, embora o documento
tenha já sido trabalhado, foi deixada uma página – a segunda – em que se dá uma
ideia de como por vezes aparece o texto a editar.
Outros documentos vão continuar a apresentar
deficiências deste e de outro tipo.
Por vezes iremos tentar ultrapassar essas
dificuldades, com a sua publicação em ficheiros de formato PDF.
Ao mesmo tempo, existe uma grande quantidade de
documentos que, mesmo depois de todo o tratamento a que foram já sujeitos,
precisam ainda de ser trabalhados por seres humanos que os leiam, interpretem e
corrijam.
Propomos a todos os interessados em participar neste
processo que entrem em contacto com o editor.
Podemos enviar documentos na versão PDF e na versão de
texto já com pré-tratamento, para quem queira apoiar o processo de correcção
final do texto.
Além disso, existirão documentos que não conseguiremos
datar correctamente pelo que, a quem nos ajudar a datar correctamente esses
documentos, muito agradecemos.
Outra forma de apoiar este projecto, poderá ser pela
partilha de documentos que não existam neste arquivo (em suporte de papel ou
digital).
Agradecemos igualmente os contributos que neste curto
espaço de tempo já nos fizeram chegar.
Apelamos aos interessados para entrarem em contacto
com o editor por e-mail, para podermos ver a melhor maneira de os incluir neste
processo de contar esta História, que não é de ninguém. É NOSSA.
Por fim uma palavra aos Partidos, nomeadamente ao PS,
PPD e PCP. As colecções dos seus jornais depois do 25 de Abril são das mais
incompletas que temos disponíveis. Sempre que tivermos exemplares, iremos
publicá-los.
Da nossa parte, não existe nenhuma espécie de censura
em relação a estas ou outras publicações, pelo que teremos todo o gosto em
acrescentar a esta História os exemplares que nos fizerem chegar, com respectivo
agradecimento e referência à colaboração.
Em relação às instituições, organismos ou pessoas que
se têm dedicado a preservar e a divulgar este período da nossa História, a
nossa postura é a de ser mais um contributo, tendo para isso toda a disponibilidade
para estabelecer possíveis parcerias.
18 de Maio de 2014
Publicamos hoje um
grupo de textos originais enviados pela redacção da revista “O Tempo e o Modo”
à censura sobre a morte de António Sérgio.
29 de Abril de 2014
Iniciamos hoje a publicação de uma segunda
série de documentos que nos vão conduzir no período que vai do 25 de Abril de
1974 até aos finais de 1979.
O primeiro documento desta segunda série é
uma prenda para os 40 anos da Revolução a que chamei "A imagem que
inspirou a Vieira da Silva".
Aqui vai uma prenda para o 25 de Abril.
Ainda nem tudo foi contado.
Aonde se inspirou a Vieira da Silva?
A Poesia está na rua.
Descrição das obras
Obra 1
Nesta obra podemos observar, ao centro,
uma multidão de pessoas, representada pelos traços a negro e pelos pontos
encarnados (simbolizando os cravos vermelhos ou rostos de gente?), estando o
grupo na frente da multidão, a segurar uma faixa. Dos lados, estão
representados edifícios podendo-se distinguir com mais clareza, do lado
direito, diversas varandas, onde se pode reconhecer, na varanda do segundo
andar, pelo menos uma pessoa com um cravo vermelho? Vieira da Silva procura
representar uma manifestação livre que comemora a revolução de Abril,
denominando este acontecimento como A Poesia está na rua. Esta multidão parece
estar a descer uma rua. Na parte inferior da obra, foi pintada uma faixa
vermelha com a data da revolução.
Obra 2
Nesta obra, o enquadramento da multidão
que celebra o 25 de Abril de 1974 está igualmente entre dois edifícios. No
centro, está representada a liberdade do povo português na multidão que parece
descer a rua e que empunha os cravos vermelhos da revolução. Do lado esquerdo
da peça, no edifício (representado num conjunto de quatro elementos: do
rés-do-chão ao 3º andar) vemos pessoas com cravos que observam e celebram com a
multidão, também com cravos vermelhos. Do lado esquerdo, percebem-se com
clareza três edifícios, e uma faixa azul com a data da revolução. Na parte
inferior da obra, a autora pintou o nome do tema: A Poesia está na rua.
Estas duas obras têm os seguintes
elementos em comum: o 25 de Abril de 1974, uma multidão que desce uma rua
ladeada de edifícios e que celebra a liberdade que a revolução trouxe,
segurando cravos vermelhos.
Jornal
O Jornal “Sempre Fixe” é também um dos
ícones da imprensa portuguesa.
A página que apresentamos é um
suplemento “ Magazine” da edição de 4 de Maio de 1974.
Estamos convencidos de que esta página é
um elemento fundamental na inspiração de Vieira da Silva para produzir dois dos
maiores ícones do 25 de Abril de 1974.
Vamos ver o que as pessoas pensam.
Na primeira página do Magazine, na
fotografia do lado esquerdo vemos uma multidão celebrando o 1º de Maio de 1974,
que segue uma rua ladeada por edifícios, onde estão pessoas nas janelas e
varandas, observando e celebrando com a multidão. No conjunto de quatro
fotografias do lado direito, dispostas como janelas, vemos um militar com um
cravo na boca, uma mãe com um filho, uma multidão e um pequeno grupo de pessoas
na entrada de um edifício.
Possível inspiração
A composição das obras de Viera da
Silva e a primeira página do Magazine apresentam vários elementos visuais
comuns, tais como a multidão que se manifesta numa rua ladeada de edifícios,
onde os moradores também celebram com a multidão. Na obra 2, o conjunto
representado do lado esquerdo (representado num conjunto de quatro elementos)
parece lembrar o alinhamento da composição das quatro fotografias que aparece
do lado direito da primeira página do Magazine.
Sequência das imagens em anexo:
1 – Cartaz Vieira da Silva – 51,5x85.
2 – Cartaz Vieira da Silva – 62x82,5.
3 – Capa do “Magazine” do jornal “Sempre
Fixe” de 4 de Maio de 1974 – 49x70.
4 – Fotografia principal do jornal.
5 – Fotografia principal do jornal com o
acréscimo da barra do 1º cartaz, onde se lê “25 de Abril de 1974”.
6 – Parte da capa do jornal.
7 – Parte da capa do jornal com as quatro
fotografias do lado em que estão no 2º cartaz.
8 – Imagens a que foram acrescentadas as
barras com as palavras 25 de Abril de 1974.
Esperamos deste modo dar o nosso modesto
contributo para as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril.
Viva o Liberdade!
Que cada um forme a sua Opinião!
25 de Abril de 2014
Passam este ano 45 anos sobre o início da
crise académica de 1969, a 17 de Abril, e 40 anos do 25 de Abril de 1974.
A crise de 1969 é o início de uma
convulsão estudantil que só terminará já muito depois do 25 de Abril, mas que
tem, até 1974, muitos momentos marcantes, dos quais não é possível deixar de
referir o assassinato pela PIDE de José António Ribeiro dos Santos ou a Crise
dos Coros no Porto em 1973 ou ainda, as investidas da Polícia de Choque na
Universidade de Lisboa.
No período de 1969 à revolução, muito mais
acontece na sociedade portuguesa, como os dois congressos da oposição
democrática, aos actos eleitorais de 1969 e 1973, passando pelo aparecimento da
quase totalidade das organização políticas de oposição não alinhadas com os
sectores tradicionais - com a excepção da CMLP e da LUAR que são anteriores -
como por exemplo, as organizações de carácter maoísta ou trotskista ou
organizações de “acção directa”, como o as Brigadas Revolucionárias.
Depois do 25 de Abril de 1974, foi o que
foi, e o que aqui ajudaremos a contar recordando episódios, hoje mais ao menos
conhecidos, mas que também fizeram parte da revolução.
Sobre o ponto de vista da recolha de
documentos, dos períodos que vão de 1969 à revolução e no período pós 25 de
Abril, há problemas de carácter diferente mas que, por paradoxal que pareça,
acabam por ter consequências similares.
O acesso a documentos de antes do 25 de
Abril é dificultado pelas edições muito reduzidas, produzidas a maior parte das
vezes por meios hoje rudimentares e com redes de distribuição muito limitadas e
que eram perigosas de guardar.
No período pós 25 de Abril há, pelo
contrário, uma explosão de organizações e de documentos que torna impossível, a
quem quer que seja, ter um acervo completo do que foi por esses dias produzido.
O projecto que hoje iniciamos vai-se
debruçar sobre estes dois períodos. De 17 de Abril de 1969 ao 25 de Abril de
1974, e deste até às eleições autárquicas de 12 de Dezembro de 1979 passam dois
períodos de, aproximadamente, cinco anos. iremos disponibilizar on-line mais de
uma dezena de milhar de documentos políticos. Serão publicados com a seguinte
cronologia: de 17 de Abril de 1969 até ao 25 de Abril, e deste até ao fim de
1979. Serão publicados os documentos que saíram nesses mesmos dias de há,
respectivamente, 45 e 40 anos.
Os documentos que serão disponibilizados
foram todos digitalizados a partir de originais. Muitos serão já conhecidos e
outros nunca foram publicados. Foram todos tratados de forma a permitir que a
sua consulta seja o mais fácil possível. Os conteúdos são, sempre que possível,
reproduzidos em texto.
Este projecto deve muito a muita gente,
que referiremos em devida altura, não tendo sido financiado, nem apoiado por
qualquer tipo de organização.
Existem muitas lacunas na documentação que
será disponibilizada. Muitas das colecções estão incompletas e outras, pura e
simplesmente, não estão representadas. De entre as falhas, salientamos, pela
sua importância, o “Avante” do PCP, o “Portugal Socialista” do PS e o “Povo
Livre” do PSD, assim como “A Batalha” da corrente Anarquista.
Relativamente a algumas das edições em
falta, os partidos têm o dever de as disponibilizar, e a outras, esperamos que
quem seguir este blogue possa, de alguma maneira, ajudar a suprir essas
omissões.
Também existirão certamente erros de data
ou classificação que tentaremos, ao longo do tempo e conforme nos for chamado à
atenção, corrigir.
Este projecto não tem por objectivo
comemorar os 40 anos do 25 de Abril de uma forma efémera que se desvanece no
próximo 1º de Maio. Nos próximos cinco anos, vamos fornecer documentação para
pessoas interessadas nestas matérias, e que nos poderão também ajudar a
compreender melhor este passado próximo.
18 de Abril de 2014
José Gualberto de Almeida Freitas
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